quinta-feira, 22 de dezembro de 2016


O papel da escola contemporânea

 

Nas últimas décadas a reestruturação do capitalismo sob a lógica do neoliberalismo a escola se transformou, mas sempre no sentido de servir ao sistema. As teorias econômicas trataram de cada vez mais integrar a escola ao modelo econômico e aperfeiçoá-la para auferir resultados eficientes para produção e reprodução do capital. Para Yong, uma delas foi a tentativa de adequar os resultados das escolas ao que é tido como as “necessidades da economia”, numa espécie de vocacionalismo em massa. O controle de boa parte do período compulsório pós-escolar e até de algumas escolas e autoridades educacionais locais foi colocado nas mãos de empregadores do setor privado que, às vezes, estavam de acordo, mas, muitas vezes, relutantes.

Para esse autor, a outra consequência foi transformar a educação em si num mercado (ou pelo menos semimercado), no qual as escolas são obrigadas a competir por alunos e fundos. A isso eu chamo não diferenciação da escolaridade.

Ainda, as escolas são tratadas como um tipo de agência de entregas, que deve se concentrar em resultados e prestar pouca atenção ao processo ou conteúdo do que é entregue. Como resultado, os propósitos da escolaridade são definidos em termos cada vez mais instrumentais, como um meio para outros fins.

 

Com o processo de globalização econômica, embora as diferenças espaciais e de tempo, entre centro e periferia do sistema, a lógica capitalista se dissemina por todas as partes do globo e isto chega às escolas, com mais intensidade em algumas,  menos noutras, mas a escola associada ao modelo atual conserva características gerais comuns.

Conforme Yong, “a luta histórica pelos propósitos da escolaridade pode ser vista em termos de duas tensões. A primeira é entre os objetivos da emancipação e da dominação”.  

Como pressuposto filosófico e sociológico convém ressaltar o papel da escola no contexto histórico contemporâneo. Neste sentido, o propósito de uma educação emancipatória parte do princípio, segundo Tonet, que sua finalidade é a realização pessoal dos sujeitos, mas diferente da visão do projeto de sociedade da modernidade, o eixo central não é o indivíduo, mas indivíduo-gênero.

 Para Tonet, “seu caráter é muito mais ontológico do que psicológico, ou seja, é uma construção de si que implica fazer sua a riqueza genérica humana ao mesmo tempo em que se está engajado na criação de uma forma superior de humanidade”.

A escola que tem como perspectiva educar com vista uma sociedade emancipada, no qual os aspectos coletivos estejam acima dos interesses individuais, na visão de Tonet (2005), se constitui o fundamento básico da educação libertadora. Para o autor: [...] “o processo de individuação, fortemente impulsionado pelo capital, na sociedade capitalista, tem um caráter individualista, privilegiando o indivíduo em detrimento da coletividade”.

Assim, temos como marca da sociedade moderna um déficit de solidariedade, de alteridade (capacidade de se colocar no lugar do outro na relação interpessoal) e de equidade (que revela senso de justiça).

Luiz Etevaldo da Silva- Mestre em Educação

quarta-feira, 30 de novembro de 2016


Às camadas populares basta saber ler, escrever e fazer contas...

             Por que diminuir a carga horária de Sociologia e Filosofia no Ensino Médio? Ou, em algumas escolas, simplesmente, banir do currículo escolar? Será que não é importante se dar mais atenção aos conceitos que podem ajudar aos jovens aprenderem a pensar criticamente?

Para responder parte das perguntas acima temos reque revisitar a história da educação. Temos que rever as relações entre classes sociais e educação, relações de poder, de hegemonia, entre outras tantas.

A escola pública francesa se constituiu um ideário da época, como meio de superar as desigualdades sociais, no qual a nova camada social se preparava para a hegemonia política. A Convenção de 1793 propalava que “a educação deve ser gratuita, literária, intelectual, física, moral e industrial” (Manacorda). No entanto, já naquela época acabou-se por diferenciar a educação da elite da educação popular. Pois, “quanto à instrução popular, esta será atendida numa forma simples e rápida” .

Como é possível perceber uma nova camada social trata de preservar a instrução como dimensão de poder social e político. Visto que “ler, escrever, fazer contas são necessidades de todos e são também os únicos conhecimentos que é possível dar mediante uma instrução direta e positiva aos habitantes das cidades e dos campos” .

            Já na origem a instrução pública constituiu-se, em que pese alguns apelos à igualdade, privilégios para as camadas dominantes em detrimento de uma instrução menor às camadas populares. Como tal, ao longo destes pouco mais de dois séculos a escola se mantém diferenciada de acordo com as condições sociais, culturais, políticas e econômicas dos indivíduos.

Educação de qualidade formal e política para preparar as camadas dirigentes e o mínimo para os trabalhadores, provenientes das camadas populares. Pois, segundo Marques, na “era do capitalismo industrial, a formação/conformação do trabalhador ocupa o lugar central nas relações trabalho-escola. Os trabalhadores não nascem feitos para o sistema das relações capital x trabalho: Têm que ser fabricados ou, artificialmente, formados, conformados”.

            Neste sentido, a educação dos filhos das camadas sociais privilegiadas aprendem a pensar a produção e reprodução da sociedade e os populares apenas ser coadjuvantes no processo, executando tarefas de quem detém o poder de comandar. A escola republicana, sob as responsabilidades do Estado, pensada por Concordet no fundo se constituiu em instituição para consolidar as diferenças de classes, tal como caracteriza-se na sociedade capitalista até os dias de hoje.

 Já no século XIX eram tecidas críticas à escola pública, como fazia o católico liberal Gino Capponi, citado por Manacorda: “A instrução pública é o pensamento do século: ela é a meta que canaliza todo esforço e o tema constante de todos os discursos [...]; e eu acho que em nenhum tempo a eficácia da elaboração foi menor do que em nossos dias”.

                Fica claro, a partir do trecho acima, que na sociedade de classes, há escolas para o segmento social mais bem constituído economicamente e para os excluídos do sistema. A escola na sociedade industrializada volta-se a instruir para criar condições para preparar dirigentes e trabalhadores técnicos, para manipular máquinas e cuidar de processos produtivos.

Ao longo destes dos últimos séculos a escola pública predomina-se por fornecer instrução mínima aos trabalhadores, de acordo com as necessidades do modelo de desenvolvimento. Jamais teve como função principal a emancipação social.

Atualmente no Brasil temos a propalada reforma do Ensino Médio, que diminui horas-aulas de componentes curriculares de Sociologia e Filosofia ( ou retira em algumas escolas), privilegiando Matemática e Língua Portuguesa. Então, às camadas populares basta saber ler, escrever e fazer contas...ensinar a pensar criticamente é reservado às camadas médias(altas) e altas da sociedade, as que se preparam para o aprendizado da participação política, da arte de administrar, criar opiniões e fomentar ideologias.

Luiz Etevaldo da Silva- Mestre em Educação

sábado, 19 de novembro de 2016


Novembro da consciência negra

Todo mês é mês da consciência negra, todo dia  é dia de consciência negra! A consciência das pessoas para novas relações sociais é desafio permanente, cotidianamente, em todos os lugares, principalmente na escola, como centro de produção de conhecimentos.

Tradicionalmente, no entanto,  o mês de novembro concentra as reflexões acerca das relações étnicas, tendo como foco a etnia afro (afrodescendente, afrobrasileira, negra, africana). Tem relação com a história, quando o Quilombo dos Palmares, lá no século 17, foi destruído pelo governo imperial e tombo seu líder Zumbi, tornando-se lendário, mitológico e, por isso, lembrado neste mês.

Na escola, em que pese a Lei 10.639/03, a meu ver ainda é um desafio implementar de fato em todas as escolas a educação étnico-racial, por várias razões, entre elas, é algo que envolve processos culturais. Sendo assim, não faz muito tempo, era silenciado quase que completamente o estudo sobre os povos afro-brasileiros.

Ao não inserir os afro-brasileiros no currículo escolar, parecia, muitas vezes, que no Brasil não havia negros. Essa etnia aprecia nos livros de história no capítulo da escravidão, com aquelas imagens de crueldade das relações escravistas.

Nas universidades, salvo exceções, não havia componente curricular que dessem relevância ao estudo das relações étnicas. Sendo assim, a maior parte dos professores tem relativa  dificuldade em trabalhar pedagogicamente esse assunto. Embora tenha cursos e literatura relativas à educação étnico-racial atualmente, mesmo assim, ainda é uma questão de tempo a apropriação de conteúdo sociológico e filosófico para tal empreitada.

Ainda, temos que levar em consideração, que há algumas ideologias políticas e religiosas que vão de encontro ao que se propõem a partir da educação étnico-racial ao estilo humanizador, ao qual preconiza a solidariedade em seus diversos sentidos éticos e morais, e o modo de educar para a cidadania, com ênfase às reflexões sobre a condição humana, ao gostar de gente, ao valorizar o humano ou a vida em primeiro lugar, a partir do multiculturalismo.

E a educação étnico-racial comporta elementos para além da moral humanizadora, envolve questões socioeconômicas, pois não basta dizer respeito, “negro também é gente”, e não criar condições para a cidadania (condições de vida dignas). Inclusive, a desvantagem social do negro na sociedade hoje deriva da história de abandono no pós-abolição, quando ficaram excluídos da terra, do trabalho e da educação.

É bom lembrar que quando aconteceu a libertação (1888) a maior parte dos ex-escravizados foi para as periferias urbanas viver precariamente, onde fosse possível encontrar um espaço para erguer seu barraco. As favelas do Brasil, das grandes capitais, sobretudo,  em sua maioria, tiveram origem neste contexto, no início do século XX. Por que ainda hoje temos os negros como a parte da população mais pobre, trabalhando em serviços menos valorizados, tendo renda menor que a média dos brancos?

Quando se toca neste quesito, os contrários logo esbravejam: já vem novamente com a ideologia de vítima (coitadinho)...mas, a história é essa, é realidade, gostaria de estar falando de coisas melhores, contudo infelizmente ainda não é possível. Embora, no entanto, reconheça que nos últimos 20 anos a situação da população negra tem registrado avanço no que tange aos direitos humanos.

Políticas públicas foram implementadas com vistas a criar condições de vida decente para os afro-brasileiros. Desde as específicas de saúde da população negra, legalização de terras quilombolas, o Estatuto da Igualdade Racial, que trouxe o sistema de cotas nas universidades, nos serviços públicos, o Minha Casa Minha Vida, que oportunizou os pobres ao acesso a financiamento, e falando desse grupo inclui muitos afros. 

O importante, nesse caso, é que o  Estado crie oportunidades para a população afro-brasileira, como sinal de pagamento de parte da dívida social para aqueles que trabalharam cerca de 350 anos, sem receber nada, produzindo a riqueza de muitas famílias ricas de seus descendente hoje.

Aos negros está posto o desafio de lutar por um mundo melhor (para o desenvolvimento social, econômico, político e cultural). Não é questão apenas  de misericórdia, é de cidadania, para empoderamento, pois assim diminuirá o racismo e o preconceito com relação aos afrodescendentes. Nada virá de graça, serão necessários esforços múltiplos para reverter a desigualdade histórica. Mudar o passado não é possível, mas o agora, o "amanhã", é compromisso nosso, apesar de...!

Luiz Etevaldo da Silva- Mestre em Educação

segunda-feira, 14 de novembro de 2016


                                 A história da escola pública

Os sujeitos que procuram o sistema público de educação básica são oriundos daquele segmento social menos privilegiado, sob o ponto de vista econômico, social e cultural. A escola, em tese, tem como papel principal construir conhecimentos, contudo, pressupõe refletir qual concepção de conhecimento ela terá como pressuposto filosófico e sociológico.  
     A construção do conhecimento escolar interpela para uma dimensão política voltada a criar condições de possibilidade de transformações sociais, políticas e econômicas, pois a realidade da maioria dos sujeitos que a frequenta necessita disto, constatado pela experiência e observações das pesquisas sobre a situação socioeconômica das camadas populares no Brasil. A perspectiva pedagógica, neste sentido, tem como compromisso constituir um pensamento capaz de realizar a leitura da palavra e do mundo, dialeticamente, evidenciando as relações de poder intrínsecas ao contexto social e político.
            A leitura crítica do contexto é exigência, neste caso, para possibilitar descobrir os condicionantes sociopolíticos que contribuem para configurar a realidade no tempo e no espaço. O professor, diante deste desafio, tem um papel político de promover reflexões para que o aluno perceba-se como sujeito histórico e entenda a história como possibilidade. 

A escola, tal como a entendemos hoje, tem origem no século XVIII, na Europa, mais precisamente na França. Na França revolucionária foi proposta uma “instrução pública, gratuita no que se refere às partes da instrução necessária a todos os homens” (Manacorda). Nesse contexto, articulava-se a escola pública, como meio de proporcionar educação a todos os indivíduos, aos cuidados do Estado. Pensava-se numa escola “única, gratuita e neutra”. A burguesia que era classe revolucionária se apropriaria de conhecimentos para se colocar como camada social protagonista do processo histórico.

            Condorcet (1743-1794), cientista e matemático francês influente na época, propunha a instrução pública destinada aos homens comuns, não apenas para os estamentos sociais privilegiados, diga-se clero e nobreza. “Condorcet sustentava a necessidade de uma instrução para todo o povo, aos cuidados do Estado e inspirada num laicismo absoluto (...)” (Manacorda). Desta forma defendia uma escola independente dos processos de dominação anteriores à Revolução Francesa e, assim, constituía-se um modelo de escola para todos. Contudo dentro da lógica funcionalista. “Nesta lógica funcionalista, a educação deve moldar-se às exigências postas ao homem capaz de produzir ativamente, isto é, adaptado às condições psicossociais demandadas pelos processos do trabalho produtivo” (Marques).

            Entendia-se já naquela época que todos deveriam ter acesso à escola. “A instrução é uma necessidade de todos e a sociedade deve proporcioná-la igualmente a todos os seus membros” (Manacorda). A camada social que emergia naquela época tinha consciência da importância da escola, como instituição que iria possibilitar condições de hegemonia, no exercício político e consolidação das conquistas  burguesas. O autor ressalta parte do discurso de grupos políticos da época revolucionária francesa: “a instrução é uma necessidade de todos. A sociedade deve favorecer com todas suas forças os progressos da razão pública e por a instrução ao alcance de todos os cidadãos”.

Para Mario Osorio Marques, a burguesia nascente fará da escola sua arma de luta: luta pela própria ascensão e ascendência no manejo da coisa pública e luta, sob a forma de instituição pública para civilizar os simples e lhe ensinar, através da leitura, da escrita e da gramática, os princípios da ordem social.

 

Luiz Etevaldo da Silva- Mestre em Educação

sábado, 5 de novembro de 2016


O fenômeno da “onda” nas eleições

Chama a atenção de muitas pessoas o fato de candidato, quando lançado não parecer que venha obter sucesso no pleito. Depois, no decorrer do processo eleitoral, começa a subir nas pesquisas e acaba vencendo a eleição. Temos, aqui no Rio Grande do Sul (RS), que me lembro, os casos de Germano Rigotto, Yeda Crusius, Sartori(ambos para governador) e recentemente Nelson Marchezan Jr.  para prefeito de Porto Alegre.

Este fenômeno pode ser entendido com uma “onda”, que se forma, ganha impulso e velocidade, quando um dos últimos, no início do processo, chega em primeiro no final. É um fenômeno que nem os mais experientes cientistas políticos conseguem explicar claramente, chegando, às vezes, a lançar hipóteses, mais quase sempre fica a pergunta, como conseguiu vencer?

A “onda” acontece basicamente pelo impulso das pessoas, por vezes, um tanto irracional ou, às vezes, emocional. Geralmente tem relação com o elevado nível de analfabetismo político (Bertolt Brecht), quando o indivíduo não consegue compreender que na relação capital e trabalho, na sociedade atual, há candidatos que tendencialmente representam cada um dos polos. Por exemplo, é comum, no Brasil, trabalhadores, gente assalariada, baixa renda, votarem em candidatos representantes do capital (direita).

O trabalhador pela lógica deveria optar por um candidato que tem ligação com políticas para o trabalho (esquerda), contudo, isso não tem acontecido, muitas vezes, ele vota em quem não tem historicamente, por opção ideológica, compromisso com a classe trabalhadora (baixa renda, sendo as possibilidades mínimas que venha fazer um governo satisfatório no sentido de oferecer políticas públicas).

O fenômeno “onda” se configura na forma de sociabilidade conhecida como “espírito de rebanho” ou “efeito manada”. Não que se queira comparar as pessoas com animas (ovelhas ou elefantes), é uma linguagem figurada para designar sujeitos que vão para uma direção porque os outros estão indo para lá( notadamente em tempo de pesquisas eleitorais, quando o candidato sobe de 3%, 5%, 8% e continua em ascensão), mas no fundo não sabe porque estão seguindo para aquela direção.

O eleitor nesse sentido tem, também, o costume de dizer que não irá botar fora seu voto. Fazer valer seu voto é votar em quem tem mais chance de vencer. Não interessa quem, mas quer ter o prazer de dizer votei nele (vencedor). O eleitor com relativa consciência de classe, mesmo tendo evidências que seu candidato não vencerá, no entanto, vota em quem pode lhe representar, não desvia o foco. 

Assim, no fenômeno “onda” a justificativa para o voto é, quase sempre, inconsistente (sem lógica), por vezes, dizem que ele é honesto, simpático, bonito, rico, entre outros. Mas, deixando sempre de lado a relação com sua classe social. Por isso, se diz que é o voto resultado do analfabetismo político. É comum nas comemorações pós-resultado positivo eleitores dizerem: “espero que cumpra o que prometeu”, ‘agora vamos cobrar”. Não percebem que mesmo sendo candidato de direita na campanha faz um discurso generalista e maquiavélico, passando a ideia que está do lado do povo (baixa renda) E, mais, cobrar o que de quem não representa a classe trabalhadora?

Luiz Etevaldo da Silva – Mestre em Educação.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016


Tarefa da educação para novas relações sociais: humanizar

 Emancipação, de certa forma, é o exercício de dialogicidade que Paulo Freire defendeu em suas obras, que significa compartilhar concepções de mundo para avançar na compreensão dele. O homem não se humaniza isolado no seu meio cultural, pois ele é um ser de relações.

Freire classifica a si mesmo como um educador humanista e direcionou seu trabalho e toda uma obra pedagógica em prol de um mundo mais humanizado. Nessa perspectiva, entendemos que a pedagogia freireana assume posição radicalmente comprometida com as lutas por humanização e resistência contra toda a qualquer forma de desumanização em relação à vida concreta das pessoas (Zitkoski, 2008).  

Humanizar é também lutar contra as formas sociais de desumanização, expressas nas injustiças, violências, indiferenças, desprezos, hipocrisias, egoísmo, etc. A emancipação é condição de humanidade, querer ser feliz e ver, também, o outro feliz. Nisso consiste em desvelar os processos de ocultação das verdades ou das meias verdades que são absolutizadas e desvirtuadas para fins de defesa de interesses individuais ou de grupos, com o objetivo de dominação.

                Segundo Almeida (2008), saber-se humano é saber-se histórico e livre, por isso, toda transformação que se deseja realizar implica efetivação da humanidade; transformar significa humanizar. Todas as vezes que carecemos de transformação, em verdade, estamos carecendo de humanização. É quando nos desumanizamos que precisamos resgatar-nos e transformar-nos outra vez em humanos.
Ainda, segundo o autor acima, e ser humano é não se esgotar nunca no saber-se; ser humano é acontecer para ser, pois não somos um dado imediato, nem coisas, carecemos permanentemente de mediações e de sentido de viver. O ser humano é um exercício de liberdade e perspectiva, entendemos que a pedagogia freireana assume posição radicalmente comprometida com as lutas por humanização e resistência contra toda forma de desumanização em relação de ser livre é poder decidir, é poder escolher; ser livre é ser inacabado e, por isso, ser marcado por um horizonte que se projeta diante do olhar.
A escola é um lócus privilegiado para efetivar a emancipação. Pois nela podemos aprender a conviver com agrupamentos maiores, pessoas diferentes, desde que nela se tenha em vista a construção do sujeito ético.

No entanto, para Almeida (2005), porque não somos um dado do mundo, nem estamos lançados na imediatez do imediato, precisamos agir eticamente, descobrindo-nos no devir da caminhada através das relações que estabelecemos. É nesse sentido que a convivência humana é ética na sua própria constituição originária; a ética faz parte do nosso modo próprio der ser no mundo, pois não nos reconhecemos no isolamento, somente nos sabemos em um ethos, convivendo com os outros; sem o outro perdemos as referências e o sentido se esvai (...).

Luiz Etevaldo da Silva – Mestre em Educação.

domingo, 16 de outubro de 2016


O processo emancipatório como tarefa da educação escolar

Para superar os processos e estruturas sociais da sociedade constituída a partir dos pressupostos da modernidade, na qual a racionalidade é utilizada (basicamente) de maneira instrumental, na busca predominantemente de resultados relacionados aos aspectos econômicos, que por sua vez obcecou todo o sistema social, criando uma cultura indiferente ao outro como ser humano, como sujeito de sensibilidade, faz-se necessário investir em processos educativos emancipatórios.

Neste sentido, a emancipação pressupõe a libertação do homem dos processos que o impede de ser livre, que causam sofrimento e lhe incomodam, privando-o de ser mais feliz, obstruindo a paz, assim, dificulta ter consciência sobre o mundo em que vive e situações que lhe oprimem, via injustiças que influenciam sua vida individual e coletiva.

A emancipação social inicialmente pode ser entendida como condição de humanização, na qual o indivíduo se constitui como sujeito pensante, aprende a conceber a realidade a partir de vários referenciais, percebe as múltiplas faces das relações de poder e amplia seu horizonte de percepção do contexto social, cultural e político.

Sendo assim, o processo emancipatório, também, tem a ver com a preparação do sujeito para tomar decisões diante das demandas do mundo contemporâneo mediante a realização de uma leitura crítica do processo histórico. Desta maneira, apropriar-se de elementos conceituais, interligados pela relação com a prática cotidiana, e constituir-se como sujeito em condições de discernimento dos processos ideológicos que dão sustentação ao modelo atual de sociedade.

Estou me referindo, quando penso em emancipação,  ao processo de humanização do sujeito, no qual aprende a constituir como ser social, a conviver, participar, relacionar-se com o outro e se fazer compreender através de processos comunicativos. Pois, nós nascemos na espécie humana, mas necessitamos, pela nossa condição cultural, aprender a agir como ser humano, visto que não nascemos prontos no ponto de vista antropológico. Humanizar-se é este processo de leitura do mundo, compreender as relações sociais, políticas e culturais, que, por sua vez, tem a ver com a disposição de ver o outro como extensão de sua condição humana.

Para Almeida (2008) o ser humano é uma tarefa permanente de realização de si mesmo, sendo tarefa, ele precisa instalar constantemente a humanidade em sua vida. Ele sabe que tem que existir e para tanto precisa efetivar a existência da qual é portador, pois humanidade é um acontecimento e, enquanto tal, precisa se encarnar para ser.

A humanização é a compreensão dialética das formas de relações humanas, compreender o mundo a partir de múltiplos referenciais e aprender a perceber as dinâmicas sociais de alteridade e equidade. Tudo isto é a história de entendimento da vida pelo viés da ética, como meio de pensar no outro, não fazer ao outro o que não gostasse que fosse feito com você.

Para Moreira (2008) A emancipação humana aparece na obra de Paulo Freire, com uma grande conquista política a ser efetivada pela práxis humana, na luta ininterrupta a favor da libertação das pessoas de suas vidas desumanizadas pela opressão e dominação social. 

Emancipação, assim é a práxis humana, como exercício de agir no meio social, político e cultural e refletir sobre nossa ação, com vista a recriar formas de sociabilidade  solidárias. O sujeito ao atingir determinado nível de emancipação aprende a ver o mundo como resultado de constructo político. Desta maneira, aprende conceber as noções de espaço e tempo como categorias indispensáveis para se compreender no mundo.

Compreender-se no processo histórico é condição indispensável para a humanização. Contudo, não apenas a compreensão racional, mas um compromisso de sujeito do processo histórico, protagonista dele, e vincular-se ao contexto social de forma significativa.

Assim, qualquer realização humana precisa pertencer ao que se está realizando, do contrário, estaremos agindo no vazio, estaremos numa ação sem valor e sem sentido. Uma verdadeira realização exige vínculo e compromisso da parte de quem a vivencia. Em verdade, uma ação só é vivência se com ela estamos comprometidos, inteirados, vinculados (Almeida, 2008).

 

Luiz Etevaldo da Silva- Mestre em Educação